A condição intervalar se manifestou na poesia e na cultura brasileira dos anos 1970 de diversas maneiras, seja nas tensões imagísticas introduzidas no corpo dos textos, seja na resistência inicial ao mercado editorial e à indústria cultural, seja na linguagem coloquial, popular, rasgada e suja que assumiam como matéria e instrumento do fazer poético, seja ainda no próprio nome de "poesia marginal". Sua margem não era exatamente "fora", mas "entre": no lugar da cicatriz e do corte, não estavam de um ou outro lado do que se cindia, mas no meio do próprio rasgo, que alguns, como Cacaso, tentavam alinhavar como podiam. É assim que as imagens poéticas entreteciam humor e angústia o tempo da espera e da pressa, da ação e da passividade o falar e o calar o silêncio imposto, o escolhido e o necessário as pulsões de vida e de morte experiência individual e coletiva medo e ousadia crença e desconfiança no progresso nacional e no papel dos meios de comunicação de massa desilusão e esperan ça nas relações humanas interesse econômico e gratuidade estética trauma e desrecalque de elementos culturais esquecimento e memória. É de sua condição intervalar os textos curtos e entrecortados, a poética lacunar e a resistência límbica que prod uziram, bem como seu modo muito próprio de testemunhar a experiência histórica em curso, buscando expressar a perplexidade diante do que era ainda incomensurável para o mundo das palavras.
Código: | 9788584041244 |
EAN: | 9788584041244 |
Peso (kg): | 1,000 |
Altura (cm): | 0,30 |
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A PALAVRA PERPLEXA: EXPERIÊNCIA HISTÓRICA E POESIA NO BRASIL NOS ANOS 1970
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