Do Ser ao Viver constitui uma obra singular no conjunto das produções publicadas de François Jullien: a composição sob forma de verbetes de pares de palavras opostas ultrapassa o formato do dicionário anunciado no subtítulo, quando dizer "dicionário" , nesta obra, corresponde a dar a perceber uma relação de suave convívio entre saberes consagrados ao logo da história da Filosofia, até hoje, e saberes inusitados que o filósofo desdobra de saberes consolidados pelo cotidiano do sujeito, desde sempr e. Mescla de "tradição e renovação", Do Ser ao Viver brinda todo leitor com certa posição intervalar na qual lhe é concedido visualizar globalmente margens ou verbetes que, à primeira vista, não suscitariam nenhum desdobramento, tal é a distância que os afasta no tempo e no espaço. Pois a eficácia desta obra consiste exatamente em conciliar o inconciliável de fatos, gestos e incidentes que arriscam passar desapercebidos no fluxo de horas e dias talhados pelo hábito. Sob esta perspectiva, Do Ser ao Viver configura-se, assim, como divisor de águas tanto para a compreensão das publicações de François Jullien anteriores a esta, sintetizadas exemplarmente por As Transformações Silenciosas (JULLIEN, François, Les transformations silencieuses, Par is: Grasset e Fasquelle, 2009 tradução: Maria Luiza Berwanger da Silva, Londrina: EDUEL, 2018) quanto para publicações posteriores a exemplo de De la vraie vie (Paris: Éditions de l''Observatoire, 2020), antecipadora da pandemia mundial. Em uma palav ra: ao fazer emergir desdobramentos insuspeitáveis da condição existencial, Do Ser ao Viver contempla todo leitor com certo pensamento de esperança para a vida nova que, certamente, há de vir. Publicada justamente em tempos de Pandemia, Do ser ao viv er, aquém e além da mensagem de esperança , retraça caminhos singulares para esta vida nova que florescerá, independente de todo domínio e vontade do sujeito contemporâneo.