Boa parte das pessoas entende que a comida e a bebida servem apenas para a manutenção da vida, para o deleite sensorial e para a celebração da convivência social. Ainda que seja absolutamente costumeiro que uma refeição especial, digamos, um jantar n o qual se celebrou um aniversário extrapole os limites da mera alimentação ou porque foi especialmente bom, ou porque foi muito alegre, ou porque evocou doces memórias, escapa a muitos indivíduos que se possa interpretar a comida e a bebida, que é po ssível abstrair informações ou conceitos delas tal qual se faz com outras artes, como a música, a literatura, a arquitetura etc. Também não pertence ao senso comum que existem na alimentação simbolismos e significados intensos como nessas mesmas arte s. Parece estranho à primeira vista, ou até mesmo absurdo, que se possa fazer uma análise acurada das bebidas e das comidas postas na mesa e que elas encerram considerações filosóficas, ideológicas e religiosas.Porém, esta interpretação é possível, d esejável e é o mote deste trabalho introduzir o leitor na simbologia da gastronomia. Assim como a rosácea do gótico radiante é eivada de significados, lembrando a luz divina que é una e simples no seu princípio e se divide e se diversifica na medida em que as criaturas intelectuais se afastam como linhas de um centro, os alimentos e bebidas, guardada a devida proporção, também têm a sua bela simbologia. Santo Tomás de Aquino, por exemplo, ensinou que há simbolismo na alimentação quando analisou algumas comidas e bebidas em algumas questões da Suma Teológica e em outros trabalhos também, como nos comentários sobre o Evangelho de São João, no qual ele ensinou o seguinte sobre o vinho:O vinho é áspero, e é a esse título que a Justiça é chamada vinho (...) por outro lado, "o vinho alegra o coração do homem" (Sl 103,15). É nisto que a Sabedoria é vinho, porque sua meditação traz a alegria mais viva (...) Da mesma forma, o vinho inebria (...) por esta razão se diz que a caridade é um vinho ( ...) E a Caridade é dita ainda vinho em razão do ardor que ele produz. (Comentários sobre o Evangelho de São João, Cp. II, lição I, nº 347, Vol. I, pp. 331-332).
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A METAFÍSICA DA GASTRONOMIA - SANTO TOMÁS DE AQUINO À MESA
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