Henfil não foi apenas um cartunista vulcânico, cujas erupções de talento manifestavam-se também em uma indignada militância contra a ditadura e preconceitos impregnados no ideário da classe média brasileira. Além de generais, delfins e empresários em polados, o irmão de Betinho e Chico Mário mirava outros alvos. Seus torpedos tinham como destinatários o machismo, a homofobia e a dilapidação da natureza, entre tantos outros. Eram temas que acabavam de entrar na pauta dos movimentos sociais nos ásp eros anos 1970. Não contente, exportou seu humor sulfúrico para meios além do papel, como a televisão, o teatro, o cinema e a literatura (foi um cronista formidável). Não havia internet na época, se não lá estaria ele, de pena e verbo em punho. Pouco s conseguiram examinar e analisar de forma abrangente o talento desse mineiro de Ribeirão das Neves, morto aos 44 anos, pouco antes da histórica campanha de Lula à presidência, em 1989. O ex-metalúrgico foi ali derrotado por pouco, pelos mesmos preco nceitos de classe e de comportamento que o traço de Henfil tanto detonou. Marcos (nascido em Natal, RN, radicado em São Paulo, SP, desde 1970) encara a tarefa, munido de gana e rigor histórico. Percorre a obra do artista com olho de historiador e de fã. E nos apresenta um livro marcante sobre a obra do homem que realizou sua migração às avessas (Henfil viveu em Natal entre 1976 e 1978).