Por Sérgio Tavares * A casa das aranhas encerra a Trilogia do corpo, iniciada com A puta, de 2014, e entremeada por O enterro do lobo branco, de 2017. Romances que, embora não disponham de uma continuidade narrativa, aproximam-se por meio de chaves de enredo que lhes atribuem características correspondentes: o uso do pan-erotismo enquanto válvula de controle sobre o sagrado e o profano, a feminilidade aberta à animália e ao brutesco, a conformação das palavras num léxi co corpóreo, uma carnalidade vocabular. Neste terceiro livro, a paulista Marcia Barbieri efetiva, com mais energia, um novo dispositivo: a transcendentalidade. Ao centro da trama está uma casa cuja estrutura pulsa tal qual a compleição de um organism o sanguíneo ao mesmo tempo que se desmaterializa no espaço-tempo, processada pela abstração de sinapses cognitivas e estesia. É como se refletisse os sentimentos selvagens que dominam seus habitantes, uma legião de seres num estado entre a matéria e a fantasmagoria, que orbitam e são imantados por uma entidade lúbrica que é a mesma mulher em três fases de sua existência, cada uma ocupando simultaneamente um quarto a si atribuído. Entre seus nomes, constam o da jovem e sensual Augustina, e o da d ecrépita Ester, acamada à beira da morte. Alternadamente, ainda que nessa mesma linha de excentricidade temporal, cada identidade - ou até mais de uma - se relaciona com o homem reconhecido como marido, o jardineiro Estevão, a doméstica Flamenca, a e mpregada Mudinha e uma figura transformada, nomeada de homem sem cabeça. Todos vivem e revivem momentos não transitórios, dominados por uma irresistível atração, uma experiência de luxúria que os envolve num circuito de promiscuidade, condenados ao d esejo insaciável e à "casa que é uma prisão intransponível". Desse modo, o texto se arma através da formulação de um anagrama em que a consciência é a contraparte da memória. Em longos blocos textuais em formato de monólogo, cada personagem narra sua ligação com essa fêmea, construindo uma percepção sensorial que se rearranja na percepção do outro, e assim o imaginário é o resultado de impulsos que decorrem do instinto mais primitivo, descartando a racionalidade. Age-se feito bestas, intoxicadas por um cio, que mela a prosa. Barbieri radicaliza em sua exploração do fundo subjetivo, encharcando a trama com um tratamento metafórico que, salvo dois breves trechos (talvez chatice do resenhista), é muito bem posto. Tudo vai em demasia, esgarçand
Código: | 9788566887631 |
EAN: | 9788566887631 |
Peso (kg): | 0,000 |
Altura (cm): | 21,00 |
Largura (cm): | 14,00 |
Espessura (cm): | 1,70 |
A CASA DAS ARANHAS
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R$54,00