A filosofia, assim como a religião, precisa tanto da morte quanto a ciência precisa do seu determinismo. A morte é a musa da filosofia, já nos disse, entre outros, o senhor de Montaigne, e também é a razão de existir da religião e da ciência, eu acre scentaria. Sem essa certeza, não há a menor possibilidade de continuarmos, por assim dizer, vivendo, e isso porque, se parássemos de morrer, toda a estrutura cultural se desmoronaria - e não por conta do que seria permitido ou proibido, isso é uma ou tra questão -, mas porque sem a morte não saberíamos o que fazer da vida nem saberíamos o que seria a vida. A morte é o que nos designa enquanto seres vivos: os seres vivos são aqueles que um dia morrem e a ciência dela - da morte - é o que nos dif erencia dos animais e nos proporciona o aparato necessário para construirmos todo um sistema de crenças, de respostas e de ilusão baseado na garantia de que um dia não mais seremos, de que um dia chegará onde nossas dores e nossa angústia se encerrar ão. Seja a ideia de um pós-morte onde o não-mais-vivo se reunirá novamente ao Um, à essência, ao Uno-primordial, a Deus - como desejarem seja a certeza de um nada posterior à vida, todas as construções imaginárias que vêm com o objetivo de dar conta do sem sentido que chamamos de morte estão aí no discurso para tentar resolver aquilo que é impossível de ser completamente, plenamente apreendido pelo homem. Antes morrer do que a eternidade - nos diz o romancista português antes a morte do que vi ver eternamente em um corpo fadado à entropia, à perecividade, quando suas células e seus genes não mais darão conta de todo o trabalho necessário para se manter em pé e funcionando.
Código: | 9788544422410 |
EAN: | 9788544422410 |
Peso (kg): | 0,000 |
Altura (cm): | 23,00 |
Largura (cm): | 16,00 |
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ÁTROPOS: ESCRITOS SOBRE MORTE, VIDA E PULSÃO
- Disponibilidade: Esgotado
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